quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Ando sonhando com esse Blog

Hoje é quarta feira. Acho que foi de sexta para sábado que sonhei com este Blog. Sonhei que escrevia três postagens seguidas. Sonhei que começava escrevendo sobre uma pessoa que em meu sonho eu criei o codenome de MK Ultra. Meu segundo post era sobre outra pessoa, cujo codinome era Pati Pace. E meu terceiro post era uma história muito bem escrita, em forma de alegoria surrealista, citando e relacionando épocas da minha vida no contexto amizades e eventos emocionais de grande peso. Com este sonho, passei esta semana com vontade de escrever, mas desejando escrever como no sonho. Sem falsa modéstia, eu realmente gosto da forma como escrevo, o que não me impede de ver limitações e supor limitações que nem ver ainda sou capaz. Neste sonho, por exemplo, eu escrevia de forma verídica sobre minhas memórias, mas sem explicitar lamentações, críticas, sem permitir sombras ou obstáculos ao prazer e fluidez na leitura. Pois bem, agora estou com desejo de estudar redação. Vejo que é possível e viável. Eu me sentiria muito bem se me tornasse escritor. Assim como gosto de fazer fotos, e de escrever músicas. Há uma coisa apenas que acredito que eu faça especialmente bem feito, e é ser pai. Eu gostaria de ser bom em algo como me sinto bom sendo pai. Não creio no entanto que encontrarei o que amar tal qual amo minha filha, a responsável por me fazer bom pai. Já vi descreverem livros como filhos, músicas e discos idem, mas não creio na veracidade de tais analogias. Também não quero ser romancista. Conseguir descrever minhas desventuras de forma aceitável à leitura alheia me seria um ponto razoável se alcançado. É possível que eu esteja desejando fazer terapia e racionalizando tal desejo como desejo de escrever. Ciente que não é um bom caminho, este de oferecer minhas privacidades em troca de leitores. Sim, devo amadurecer muito antes. Ok, obrigado pela atenção. Ah, a primeira parte do sonho era assim, eu, Paulo do passado, escrevia com intento de preservar sua personalidade na vida do Paulo do futuro, o leitor pretendido. Era nesse contexto que eu reciclava mais uma vez os eventos MK Ultra e Pati Pace. Foi um sonho muito bom. Seria uma boa realidade.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Livro de Nadas

Campo Grande - 19 de junho de 2014

Essa data. 6 dias após meu trigésimo aniversário, ano de copa no Brasil, ano em que eu fiz 30 anos, Camila fez 30 anos e Luaninha passou do primário para o ginásio, completa 11 anos de vida, essa mocinha que mudou minha vida.

Mudou, mudanças, mudar... mudo, mudo, mas cá estou, na mesma salinha, no mesmo balcão, talvez com os mesmos dramas, dúvidas e divagações, ah! e saudades, eu sinto as mesmas saudades de sempre. As dúvidas de hoje são principalmente as certezas de antes, as divagações dependem do estímulo do momento. Por exemplo, estou escrevendo agora porque digitei "tati" no search do meu gmail e passei um tempinho lendo os resultados. O por que eu me lembrei dela hoje eu não me lembro bem, mas não é incomum ela frequentar minha rotina criativa. É um fracasso que me dói não ter conseguido cuidar da nossa amizade.

Antes eu escrevia em busca de insights, procurando sentido na união de meus pedaços expostos no texto. Depois escrevia apenas pelo gosto de explorar aqueles breves momentos de criação. Agora escrevo para me reencontrar. Antes eu via e não entendia, agora entendo mas não vejo.

Sempre escrevi muito do passado e quase nada do futuro. O presente muda o passado, sabia? Rss, é verdade e até mais do que o passado muda o presente. Nós vivemos no presente, e nós mudamos tudo. Não escrevo sobre o futuro apenas para não comprometê-lo, para não criar trilhos. Já há trilhos em meu futuro e eu não gosto muito destes que já existem. Sobre o futuro, pretendo apenas respeitar minhas regras, que não são lá muitas afinal.

Sobre mim, sei menos hoje do que há dez anos atrás, então vou registrar algumas coisas. Nasci de 8 meses em Campo Grande MS na Santa Casa no ano de 84 às 16:30 de uma quarta-feira dia 13 de junho, quando minha mãe tinha 38 anos e 5 meses e meu pai tinha 27 anos e 11 meses de idade. Nasci e fui morar na mesma casa onde moro hoje. Também morava aqui minha avó materna, que foi embora quando eu tinha 3 anos de idade. Também morava minha tia Landa que se casou e foi embora quando eu tinha 5 anos. Quem ficou ficou, mas ficou querendo ir, e quem não queria ir queria que todos ficassem para sempre. Complicado? Eu que sei, rss. Até onde sei sou filho único. Tenho madrina e padrinho e quatro primos que atuaram como irmãos me servindo de ícones. Gosto muito deles. Nasci com problemas respiratórios, alergias e constantes crises de bronquite. Comecei natação aos cinco e fiz até os dez ou onze. Comecei inglês aos oito e fiz até os dezessete. Fiz kumon dos oito aos dez e informática aos onze. Violão dos doze até hoje, com suas pausas e crises e alegrias. Nunca fiz teatro, mas devia ter feito para aprender a administrar minhas feições. Assusto as pessoas com minha cara de olhos ofuscados e meu sorriso parece irônico quando não é. Não sou míope nem surdo, mas sou extremamente focado e quando estou raciocinando posso passar longos momentos olhando inconveniente para um decote sem perceber, assim como é muito comum que falem comigo, chamem meu nome e me façam perguntas e eu também não perceba.


memória, trata com carinho quem eu não tratei como queria, como devia
queria agora dar a elas esse carinho, mas nunca é como imagino
presente é real, perigoso, passado é um livro de fotos e o futuro um rabisco a mão
a vida é como devia
eu, ainda não

quarta-feira, 14 de março de 2012

Entrega absoluta

A gente quer encontrar alguém bonito, inteligente e espirituoso, alguém que não seja muito exibido nem vaidoso demais, que tenha um papo cativante e esteja parado na nossa. Mas e se beijar mal? Sem chance. Tem que beijar bem, tanto eles quanto elas.

Quando escuto alguém dizendo que Fulano beija bem e Sicrano beija mal, quase volto a acreditar em histórias da carochinha. Beijo é a sorte de duas bocas entrarem em comunhão. Pode um Rafael beijar uma Ana e ser uma explosão vulcânica, e o mesmo Rafael beijar uma Cristina e ser um encontro labial de dar sono. Pessoas não beijam bem ou mal: casais se beijam bem ou mal. Há sempre dois envolvidos.

A definição de um beijo bom é que pode ser questionável, mas quem está no meio do entrevero quase sempre reconhece o ósculo sublime.

Beijo bom é beijo decidido, mesmo que a decisão seja levá-lo devagar ao longe.

Beijo bom é beijo molhado, em que os beijadores doam tudo o que há para doar na cavidade bucal, sem assepsia, entrega absoluta.

Beijo bom é beijo sem pressa, que não foi condenado pelos ponteiros do relógio, que se perde em labirintos escuros já que, é bom lembrar, estamos de olhos fechados.

Beijo bom é beijo que você não consegue interromper nem que quisesse.

Beijo bom é beijo que não permite que seu pensamento tome forma e voe para outro lugar.

E, por fim, beijo bom é o beijo que está sendo dado na pessoa por quem você é completamente apaixonada.

Existe beijo ruim? Existe. Beijo sem alma, beijo educado demais, beijo cheio de cuidados, beijo curto, beijo seco. Mas uma coisa é certa: precisa dois para torná-lo frio ou torná-lo quente. Todo mundo pode beijar bem, basta nossa boca encontrar com quem.

terça-feira, 13 de março de 2012

Treze de março de Dois mil e doze

Treze de março de Dois mil e doze

Venho sentindo vergonha a prestação, e hoje somei mais a essa dívida.
Venho me expondo, me punindo, me ridicularizando, e fazendo o que eu gostava de pensar que nunca faria, que é prejudicar meus queridos. Expus pessoas próximas de mim, como é inevitável de se fazer. Expus o gritante caráter da paixão que sinto, sentindo como se fosse a primeira paixão da minha vida, e como se fosse a última. E perplexo! Quais ingredientes me passaram despercebidos? O que foi isso que me pegou tão desprevenido? Sou eu? É ela? É minha vida atual? Será que estou com medo de as janelas da vida estarem começando a se fechar pra mim? Estou eu ficando desesperado? Com o que?

Eu não consigo retomar o raciocínio que havia começado quando fui interrompido pela comemoração ansiosa da Camila. Eu estava percebendo que estava escravizando aquela flor. ME lembro de ter dito, e não muito mais que isso, infelizmente, que estava com vergonha por estar desejando obriga-la a fazer o que eu queria que ela fizesse, e estava me percebendo desesperado por ela não agir como eu desejava que ela agisse. Pensei, a essa altura da minha vida, com esse tipo de mentalidade? Muita vergonha, grande decepção!

Mas é isso? Dá pra resumir isso? Dá pra afirmar que eu atuei ditatorialmente desde o início? E se eu percebi isso no surgimento dessa conduta? E se eu apenas estava passando por essa idéia naquele instante e me assustei? Como saber? Como eu queria me conhecer melhor! Como eu queria saber melhor desse lugar onde estou, onde tenho estado desde 2 de dezembro, desde cinco de março. Eu quero escrever aqui no propósito de me entender a curto, médio e longo prazo. E que fique combinado, se eu passar esse link para a amiga flor, então eu mereço as consequências dolorosas de tacanha idiotice. Jesus era apaixonado pela verdade, mas ele podia. E eu não estou aqui lidando com verdades, estou tentando sim domar meus monstros. Ninguém merece a angustia de ficar cara a cara com meus piores momentos. Que eu não pense jamais que pode ser uma boa idéia deixar alguém ler isso. Que eu esteja escrevendo isso para mim. Que seja sincero. Que eu não seja mais masoquista.

Por que eu me apaixonei por ela em 1999 e por que não fiquei com ela

Se eu pudesse eu negava, mas não posso. Seu busto representava para mim o amparo, a proteção, que eu sempre senti, e infelizmente ainda sinto, necessidade de ter. Seu rosto redondo, sua boca carnuda, suas orelhas pequenas, seu nariz pequeno e redondinho, seu cabelo crespo, forte e volumoso, sua estatura, sua forma de se vestir, simples e segura, seu talento e interesse musical, seu sorriso fácil, inteligência e competência. Também me apaixonei por ela pela admiração que ela sentia por mim, e que eu acho que ela sentia até pouco tempo atrás, mas estou quase certo que não sente mais. Eu não sinto. Pode ser transferência. Cheguei, em 99, a escrever um bilhete para ela explicando que havia me apaixonado por ela, mas como tinha namorada, achava melhor me afastar dela até que minahs emoções ficassem mais equilibradas. Lembro dela me ligar me perguntando brava por que eu iria me afastar. Agora entendo que ela já sabia que eu estava apaixonado, oras, pois eu havia escrito isso. O que ela perguntava era por que eu não podia namorar com ela, já que estava apaixonado. Levei anos pra entender isso, porque eu não queria aceitar que ela sugerira que eu abandonasse a Camila para ficar com ela. Por que? Porque eu nunca me permiti abandonar a Camila, pra mim sempre foi como se a única certeza que eu tenho da vida é que eu devo ficar ao lado da Camila. Mas, assim sendo, devo ficar com ela pra sempre? E se não, até quando? Como saber?
Eu perdi chances de ser sincero com a flor. Mas não perdi todas. Fui no Glauce ver ela dançar. Me lembro dela dançando Mercedita, com roupas cor de pele, tecidos finos. Fui sozinho, ela dançava em um grande grupo. Senti ciúmes dos dançarinos e da platéia. Percebi pela primeira vez em relação a ela que eu não tinha o que era preciso pra ser feliz ao lado dela. Será que me apaixono por ela desde então buscando sofrer por amor? Ai meu Deus, será que eu ainda sou assim? Eu já sofri muitíssimo mais que o suficiente pra uma vida.
Saindo do teatro, lembrança vaga de ela não ter me visto, caminhei até a casa dela, embalado por expectativa de modo que nem cansaço sentia. Lá chegando ela estava no meio fio conversando compenetradamente com seu namorado da época, um garoto alto e magro, simpático. Havia visto ele numa panelada de bobó na casa da Camila. Eu já gostava dela. E mais verdades se quebram. Hoje é dia de faxina, rsss. Eu gostava dela namorando com a Camila no primeiro ano de namoro, onde eu lembrava ser pura paixão. Abandono maiores incursões por inapetência! Me arrependo, mas continuei andando em direção a eles até fazer contato, após já ter percebido que não era presença desejada naquele momento. Eu sabia que eles estavam terminando. Eu não parei por medo de ela ter me visto de longe e achar ainda mais esquisito eu não me aproximar. Eu ia me declarar, se ela estivesse sozinha. E daí? Eu ia ter namorado com ela? Ia ter casado?Engravidado? Ia levar ela pro buraco onde fui parar? EU NÃO DEVO FAZER MAL A NINGUÉM ALÉM DE MIM MESMO!!! EU SEI AMAR!!! PELO MENOS ISSO EU NÃO POSSO ESTRAGAR!!! QUE SEJA MINHA ÚNICA SAGRADA FUNÇÃO, NÃO ESTRAGAR A VIDA DE MAIS NINGUÉM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Outra ocasião foi na festa na casa do André. Ela demonstrou que queria ficar comigo, e eu queria ficar com ela, e nós ficamos sozinhos lá me cima, dançando um pouquinho, mas eu havia ido à festa com a Camila, com o Tanaka e com a Rita, todos doidos pra me ver ficando com a flor pra contar pra Camila e o Tanaka doido pra ficar com ela naquele dia mesmo. Eu sentia ciúmes da Camila com o Tanaka e com o André. Eu queria ficar com a flor, mas não fiquei, e acho que ela ficou triste. Ela não demonstra quando fica triste, mas doeu em mim a possibilidade de ter deixado ela pra trás mais uma vez, eu queria ter ficado com ela, de novo queria mas não fiquei.
Ela vinha na minha casa pra gente tocar, ouvir Marisa Monte, tirar músicas, eu ensinava inglês pra ela, como eu gostava de passar as tardes com ela, só nós dois. Eu nunca fiquei com ela, nunca forcei a situação, acho ótimo isso não ser da minha índole, ao menos até que eu descubra que eu faço isso ou passe a fazer... eu gostava daqueles momentos, eu era tomado por paz e felicidade e achava isso normal, rss. Que idiota! Eu sou um anti-herói e acho que sempre o serei. Para ela foi certamente bom não ter ficado comigo. Ela é uma pessoa adorável, não vou elogiar tudo o que guardo pra não perder o foco.
Tocamos no festival do Dom Bosco no ano de 2000, depois fomos para a festa junina do Raul e acho que depois fomos com o Evaristo lanchar perto da tv morena. Mas não tenho certeza porque em 2000 eu não tinha chn e acho que o Evaristo também não, então a saída pra lanchar teria que ser em julho ou agosto de 2002, época também em que tirei fotos das 3 amigas na feira, na minha casa e no supermercado. Será que nessa época ela já havia começado a faculdade? Ela vinha em todas as festas aqui em casa, e quando meu pai contou pro pai da Camila que ela estava grávida, a flor estava aqui, e eu nem dei atenção pra ela, foi um dia conturbado, eu ficava aflito com o risco e a afronta que meu pai representava pra mim naquela situação.

Eu fiz a cama em que estou deitado e não tenho o direito de mudar de idéia agora. Por que? Só porque eu quero? Por que me apaixonei as regras mudaram? Por mim? Sou eu qualquer coisa especial? Eu sou mais um, e devo fazer o mínimo esperado de mim. Isso não vai me matar. E dor eu aguento. Eu só não devo machucar a flor. Eu só não devo machucar as flores. Eu devo proteger o meu jardim com todo meu suor, com todas minahs lágrimas e com a última gota de sangue meu. Vivo e seguirei honrando esse contrato.

Flor, me consolo por ter te conhecido, e com a possibilidade de um dia distante poder passar tardes com você, ouvindo musica, te ensinando coisas, me jubilando com sua admiração. Você é especial para mim, mas por favor, não se aproxime tanto.

...a prayer for the wild at heart, kept in cages...



mês que vem, dia 14, completam seis anos que ela conheceu seu mais sério namorado, será que foi ele que deixou ela assim? será que ela sempre foi assim? será que foi a faculdade, a vida?
será que de novo eu estou querendo que ela seja como eu quero? é por isso que eu não mereço nem ela nem ninguém.

terça-feira, 6 de março de 2012

seis de março de dois mil e doze

Jeito. Pêgo de jeito, mesmo com jeito fiquei sem jeito.

Quanta areia passa pelas pás do velho mineiro entre uma e outra pepitas de grande valor? Tanto treino, tanto aprendizado, tantas formas diferentes de se perder em dúvidas.

Vamos deixar a areia e falar do ouro, do precioso material que de vez em vez encontramos entre dias de luta. Nos exige preparo, destreza e calma, receber essas maravilhas em nossa rotina, como se fosse gigante a instiga de rejeitar tão estranha peça. O fascínio intimidador do desejo realizado, o escândalo da felicidade, por mais inocente que ela seja. Velemos a habilidade de aceitar a alegria, os bons momentos, as novas experiências que expandem o porto seguro da rotina cinza, da areia da pá do velho mineiro.

Eu não te conheço de verdade. Literalmente, mesmo que eu te conheça a vinte anos ou mais, eu não te conheço. Não neste momento. Neste momento, no entanto, eu te amo. Eu te ilumino como uma lâmpada acesa ama a grama e os galhos à sua volta. E eu amo quem acendeu essa luz, e amo a árvore que sustenta essa lâmpada. Eu gosto quando me parece que vale à pena tanto ter me perdido debaixo da terra procurando meu caminho.

Não peço mais que essa leitura com a qual já me presenteaste. A felicidade é para todos.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

1986?

Dias não vividos

Era desses filhos únicos. Desses que se apaixonam. Criança beijoqueira, terror das festinhas de aniversário. Que a memória alcança, beijava desde os cinco anos, talvez antes. Aos oito era apaixonado pela Graziela. Graziela era uma coleguinha de escola. A que sempre terminava os ditados em primeiro, ou em segundo lugar, quando ele terminava em primeiro. E ela falava sozinha, igual ele! Não deu outra, logo depois das férias da segunda série do primário, férias de saudade, estava ele enfeitando um pirulitinho com colagens de papel e deixando na mesinha dela. Começara bem, se apaixonando por uma japonesinha lindinha, mas cativado pela inteligência e pelas peculiaridades, pelas ossincrasias da garotinha. Nunca se beijaram. Uma vez, porém, sem saber muito o que fazer naquele momento, ele a riscou nas costas com um pedaço de carvão dentro da piscina. E riram. Parece que perceberam o que ele só entenderia muitíssimos anos depois como um desejo de marcar aquele momento. De fazer algo coerente tanto com o que sentiam, quanto com a condição de crianças que eram. Ele não era adulto, ele apenas se apaixonava.
E veio o ginásio. Ele bateu os olhinhos na C.A e sorriu. Já a conhecia da primeira séria, quando ela estudava de tarde. Na verdade, ele se lembrava de ela ter olhado pra ele uma vez na primeira série. Sim, ele se lembra do primo dela o chamando de ladrão porque ele estava usando os lápis de colorir que estavam dentro do estojo do primo. Era um daqueles estojos cheios de botões, com apontador e borracha embutidos. Nosso indiozinho lusitano havia pedido ao coleguinha para ver o estojo, coleguinha deixou, indiozinho, comuna mirim, pegou os lápis e pôs-se a pintar. Foi chamado de ladrão pelo japinha nervoso. Quatro anos depois, C.A está linda e sorri para nosso apaixonado mocinho. Ele entra numas de tirar fotos. Tinha ganhado de presente de natal sua primeira kodak automática. 36 poses era pouco para nosso garoto. Marcou um ginásio inteiro de C.A com fotografias, uma troca de cadernos, um anel trazido da disney mas nunca entregue e uma declaração de amor em código que ela entendeu e respondeu com a letra de uma música dos paralamas. Sem beijo. No final do ginásio aconteceu a Mi. A Mi foi o primeiro beijo pós puberdade. Foi a primeira paixão in praxis. Nosso garoto até então já sabia arranhar, fotografar, escrever, fazer musica, cozinhar, sabia beijar e se declarar. Sabia desejar também. Sabia desejar!
Nosso garoto desejou a Mi por uns meses até o primeiro beijo. Beijo de janeiro no jardim. Beijo de não perder a amizade, beijo de carinho e pacto. Beijo único na vida inteira. Foi aquele! Beijo de janeiro de 1999. Mas vieram outros. Beijos e paixões. Se não viessem, que vida seria? E se tivessem ficado também. Que vida? Beijos. Quê?
Teve a Paula com os beijos pra esquecer a Mi. Mas a Mi voltou. Teve a C.P e seu canto, paixão sem beijo mas com música. Teve a Bruna com seus loiros cabelos enroladinhos, seu rosto redondo e seus olhos azuis. Nunca mais vi depois do show do Engenheiros. Teve a Renata com suas coxas grossas de natação, seu rosto lindo e forte e seus longos e negros cabelos cacheados. Sem beijos e sem paixão, apenas telefone escrito na mão e nunca usado. Linda Renata. Teve a Prank, admirável garota. E teve a Starla. Com a Starla teve músicas, a que ficou pra mim foi Suzane com o Weezer. Teve encontro na sessão de roupas do supermercado, e eu estragando tudo várias vezes. Não dava pé pra mim, e eu aprendi que não sabia nadar. Teve isso, e saudade, e curiosidade, e vontade de tentar mais. Mas não dava tempo. E vieram menos beijos, e menos paixões. Veio o pulsar da vida, com suas urgências. Veio a vida reorganizando a vida. E foi-se o tempo das paixões. Que beijos?